sábado, 26 de maio de 2012

Minha triste imagem no espaço



À noite, caminho solitário na praia deserta. Do mar sopra o característico vento do litoral gaúcho. Enquanto olho as ondas brancas quebrarem naquela pequena faixa do Atlântico, ouço Bajofondo no MP3. A dor que levava dentro de mim dou um jeito de a expulsar a cada passo executado ao ritmo do tango eletrônico. Giro o corpo no próprio eixo e vejo as marcas deixadas na areia úmida — que sob meus pés transforma-se numa enorme pista de dança. A coreografia remete a David Byrne e Arnaldo Antunes, mas jamais foi ensaiada. Resolvo dedicá-la aos milhares de estrelas que iluminam parcialmente aquela linda e fria noite de outono. Elas me parecem ser as únicas testemunhas atônitas daquele momento de sublimação corpóreo-espiritual. Trezentos, quinhentos metros de pegadas. Muda a música e continuo bailando. Penso: onde estará você? A impossibilidade de sua presença física alimenta o prosseguimento da catarse que imagino registrada por algum satélite espião na órbita do planeta. De lá, as cenas viajam perdidas pelo espaço infinito até serem capturadas por uma nave extraterrestre, na qual a tripulação assiste irônica a meu triste espetáculo humano. Na Terra, leve, desapareço aos poucos num negro véu, na medida em que avanço sobre a escuridão noturna que devora minha imagem.


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