quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ela, inteira


Depois de algum tempo, de maneira diferente, sem retirar nenhuma peça de roupa, ela despede-se por completo diante de mim pela primeira vez. Com dificuldades, suas camadas protetoras vão caindo uma a uma. Surge a garota que vislumbrei na noite soturna de um pesadelo real: frágil e inteira. Sua companheira fiel, a verdade, manda o silêncio como mensageiro — para em seguida imperar solene no ambiente. Consigo, então, sentir a tristeza partir de sua alma e me atingir com força. Um choro belo e digno desenha-se de maneira suave em seu rosto. Dou-lhe um abraço carinhoso, na tentativa sincera de conforto. Estranhamente vazio, percebo: o corpo que envolvo leva uma carga de sofrimento tão grande e diferente da que carrego. Como atenuar tamanha dor que insinua deixar profundas marcas? Por que ela precisa passar por isso? Que malditas circunstâncias a puseram frente àquela situação? Sigo falando e ouvindo, procurando dar-lhe consolo. Por dentro, no entanto, impotente, sem encontrar soluções às minhas perguntas, sou eu agora que choro sem verter uma única lágrima. Compartilhando culpas e pecados, assim enfrentamos a escura madrugada, até o primeiro raio de sol iluminar tudo com clareza definidora. Para nós, as manhãs jamais existiriam. Elas pertencem somente aos puros de coração.


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