Piratas mentais


Para a Patrícia
Sinto uma forte dor na cabeça, uma pontada. É a âncora do navio pirata em minha mente. Ela é içada, e após breve descanso, a embarcação parte novamente para navegar destemida entre os mares dos sulcos cerebrais, enquanto tremula no alto do mastro um pano preto com o desenho de minha caveira. Ouço o distante som das canções entoadas pela feliz tripulação. A alegria dos piratas mentais está nos saques que realizam durante a jornada. Eles vão pilhando memórias, roubando as boas lembranças, levando os bens mais preciosos. Conhecedores de meus oceanos, dispensam bússola e astrolábios, pois sabem localizar cada recordação valiosa. Não sei como enfrentá-los, na medida em que me sinto fraco, amargo, e sem referências. O alento reside num lugar secreto de meu cérebro, inacessível até mesmo para esses experientes marinheiros. A ilha, no lóbulo occipital, em que enterrei a arca onde venho acumulando o maior dos meus tesouros. Lá estão todas as nossas lembranças: desde a primeira vez que meus olhos te buscaram, até certamente a última vez que te verei antes que eles se fechem para sempre. Os piratas a procuram com afinco, e eu a guardo como derradeira resistência de sanidade.


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