Para a Patrícia
Cheguei
até ela doente de amor. O vírus já devastara meu coração, e o pouco da energia
restante usava-a para manter a lucidez que falta aos apaixonados desiludidos.
Estranha doença essa capaz de infligir tanta dor e levar à morte, mas que, sob
controle, ninguém pode viver sem — e dizer-se feliz. Seu tratamento não é
fácil, exige esforço e o uso contínuo de uma espécie de vacina: o próprio vírus
modificado. “Só o amor cura o mal causado pelo amor”, disse ela sussurrando-me
ao ouvido. Depois de vários anos, suas palavras ainda ressoam verdadeiras, pois
assim se fez. Manhãs de inapetência: afeto e tolerância. Tardes febris: música
e mútuo conhecimento. Noites delirantes: carinho e poesia. E o tempo... Tive a
sorte de encontrá-la. A convalescença me ensinou: todos nós carregamos o vírus
e a capacidade de infectar. Somente algumas pessoas, no entanto, desenvolvem a
vacina e o dom da cura. Agora, enquanto escrevo, pelo reflexo da tela do
computador, vejo sua chegada. Sinto uma respiração quente, o envolver carinhoso
de seus braços, e o pressionar dos lábios em minha nuca. É ela a me administrar
mais uma dose de seu remédio salvador.