Onde moro




À Palmira
Um lugar para acomodar a alma. Uma parede para pendurar os retratos. Uma casa para chamar de lar. Onde afinal ela mora? Em boa parte da vida acompanhou a família por vários endereços. Em cada um deles, guardava o aprendizado de dificuldades e a beleza perene do amor diário dividido por cinco, seis, sete irmãos. A juventude a empurrou para o mundo. Entre idas e vindas, movimentos arriscados e a solidão da independência, viajou e experimentou outras cidades e Estados. Sofreu pela distância, cresceu pela dor dos erros. Quando encontrou o amor e a segurança que procurava, aportou na montanha rochosa, fez surgir uma pequena e linda ilha cercada de cuidados e expectativas — mas continuou a navegar, agora acompanhada da montanha e da ilha. São Paulo, São José dos Campos, Escócia, Miami, Vila Velha, Porto Alegre, São Paulo. As mudanças, as difíceis adaptações, o desgaste emocional das frágeis raízes locais. Longe de todos, a cada encontro esparso me intrigava vê-la mais forte e segura. Ela, itinerante, e eu, imóvel na mesma casa, coberto pelas sufocantes raízes da inércia. Numa dessas oportunidades, veio-me enfim a revelação. Perguntei-lhe num olhar profundo: “Onde você realmente mora?” Tranquila, me respondeu sorrindo: “Eu moro em meus irmãos”. Compreendi de imediato ao senti-la se expandir, vibrando dentro de mim.



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