Para Ronaldo e Marcos
À
noite, dois garotos correm numa rua sem pavimento. Eles têm cinco minutos para
percorrer a distância de 800 metros entre a festa no clube, e a segurança do
lar. Não é uma disputa, é uma corrida solidária contra o relógio e o destino.
Lado a lado, pelo deserto percurso em linha reta, entrecruzam olhares de
incentivo. Os ligeiros pés juvenis vão deixando mais do que uma cortina de pó
levantada pelo caminho, ficam para trás a infância e uma infinidade de possibilidades.
São irmãos que, unidos, cumpriam a exigência paterna: sempre retornar às 22h.
Se a rigidez era uma questão disciplinar, obedecida por ambos com naturalidade,
àquela época, a vida tratou de lhes oferecer visões diferentes com o passar do
tempo. Tantos anos depois, ainda os vejo correndo por aí. Não mais ombro a
ombro. Sem perceber, eles se perderam em alguma encruzilhada. Estão distantes,
correm agora em ritmos diferentes. A ajuda permanece, os olhares também — mesmo
que longínquos. Mas a poeira... Extenuado, é pelo rastro dela que os localizo
nesta difícil e longa corrida coletiva na qual nunca existirão vencedores, e
cuja linha de chegada todos nós alcançaremos sozinhos, cedo ou tarde. Corram
garotos, corram, eu estou atrás de vocês.