Para
minha irmã Sandra
Em
meu estranho sonho vejo a guerreira que chega cansada em sua fortaleza, à
noite. Os problemas enfrentados com bravura, uma nova jornada vencida, e o
reconfortante sentimento do dever cumprido. Ela começa a desfazer-se lentamente
de sua robusta armadura. Ao final, resta-lhe apenas o elmo a proteger a cabeça.
A retirada da última peça revela um rosto radiante, belo, e que reconheço.
Guarda as feições da menina de minha adolescência, a pequena irmã promotora de
chás e desfiles de bonecas que movimentavam crianças e adultos do prédio onde
morávamos. Traz ainda o mesmo traço desafiador da jovem noiva que, em nome do
amor, entrou na igreja sem o pai — contrário ao casamento. Sim, não tenho
dúvida, é ela, a mãe que longe do ex-marido cria com dificuldades, mas de
maneira honrada e corajosa, as duas filhas pequenas; a amiga de uma centena de
amigos que a adoram; a irmã que todas as irmãs acorrem nos momentos difíceis.
Aquela cujo olhar e as palavras de esperança me acalmam, quando estou perdido.
Agora, seu corpo revestido por feixes de músculos (a armadura natural) deita e
descansa. No meu sonho me emociono, então, vendo a imagem paradoxal da
meiga-menina-guerreira recuperando as energias para mais um dia de batalha.