O impronunciável


Seis letras: três vogais e três consoantes. Embora a inegável intimidade, ela não se permitia pronunciar o meu nome. Ria, conversava, beijava e fazia amor, evitando sempre disparar aquela simples combinação silábica. Temia, quem sabe, conjurar a palavra secreta que abriria sem ressalvas o seu coração, tornando-me o único e eterno ocupante daquele anelado espaço. Foram meses procurando ouvir sua voz me chamar por qualquer motivo, o mais tolo que fosse. Me bastaria um grito de raiva, um sussurro de prazer, um sibilar descuidado. Tempo perdido. Algo inexplicável travava sua língua e a impedia de articular os precisos fonemas. A dor suplantou o amor, e o derradeiro encontro teve a marca do choro contido e uma dupla surpreendente decisão. Estávamos abraçados na despedida, e enquanto ela falava, pressenti o que viria. No exato instante em que se preparava para finalmente quebrar o encanto, encostei a boca entreaberta na sua. Beijei-a suave e num encaixe perfeito, de tal maneira que a tão aguardada palavra foi dita, mas lida apenas pelos meus lábios. O som não se propagou no recinto. Sem deixar escapar uma única letra, meu nome foi antropofagicamente mastigado e deglutido por mim em meio à mistura de nossas salivas. Jamais ouvi de novo sua voz. Saí fortalecido ao compreender que a intensidade daquele sentimento estava na magia do impronunciável de meu nome.


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