Para minha irmã Maira
O unido casal de irmãos segue a caminho da escola primária. Passos
cadenciados pela cúmplice proteção e amizade, alimentadas nas caseiras sessões de
filmes de capa e espada, dramas
lacrimejantes e romances variados. Ele, menor, ao seu lado, admirava o olhar
suave que a irmã maior lançava sobre o universo fantasioso do cinema,
concedendo-lhe a leveza e o colorido que faltavam à antiga TV preto e branco
que assistiam. Aprendia com ela, então, a nunca deixar o peso da dura realidade
sobrepor-se à sensibilidade.
Naquele início de tarde, ao chegarem à estação, o tumulto urbano faz o irmão perder-se por instantes. A irmã, preocupada, vê o menino desaparecer entre a multidão de pernas e cinturas. O revê segundos depois no grande vidro traseiro do coletivo que se afasta. Por engano, ele havia embarcado no ônibus errado, sem o dinheiro da passagem, e pequeno demais para a aventura solitária. A imagem do garoto apreensivo por seu destino, a trocar olhares com ela em pé na parada — coração embrulhado pela incógnita do porvir. E o vidro traseiro do ônibus, tal como luminosa tela de cinema, a levar o rosto do menino assustado até sumir lentamente no horizonte de asfalto e automóveis.
O ônibus, a paixão pelo cinema, e a vida, tomaram itinerários diferentes, mas a lembrança da infantil história dramática de final feliz, como a sequência de um filme, perdura até hoje em seus protagonistas. Anos depois, ainda sem expor esses sentimentos, aquelas almas reconhecidas/unidas por idêntica sensibilidade, foram tocadas pelo ocorrido. Na infância viveram pela primeira vez a legítima dor da perda irreparável, atenuada pela certeza de que o amor e o senso de proteção são o que nos resta nestes momentos.
Se eu continuo a pegar alguns ônibus errados pelo caminho, e permaneço pequeno diante da tela do destino, tenho, desde aquela tarde, a segurança de que pelo grande vidro traseiro encontrarei sempre o mesmo olhar de proteção de minha amada irmã mais velha.
Naquele início de tarde, ao chegarem à estação, o tumulto urbano faz o irmão perder-se por instantes. A irmã, preocupada, vê o menino desaparecer entre a multidão de pernas e cinturas. O revê segundos depois no grande vidro traseiro do coletivo que se afasta. Por engano, ele havia embarcado no ônibus errado, sem o dinheiro da passagem, e pequeno demais para a aventura solitária. A imagem do garoto apreensivo por seu destino, a trocar olhares com ela em pé na parada — coração embrulhado pela incógnita do porvir. E o vidro traseiro do ônibus, tal como luminosa tela de cinema, a levar o rosto do menino assustado até sumir lentamente no horizonte de asfalto e automóveis.
O ônibus, a paixão pelo cinema, e a vida, tomaram itinerários diferentes, mas a lembrança da infantil história dramática de final feliz, como a sequência de um filme, perdura até hoje em seus protagonistas. Anos depois, ainda sem expor esses sentimentos, aquelas almas reconhecidas/unidas por idêntica sensibilidade, foram tocadas pelo ocorrido. Na infância viveram pela primeira vez a legítima dor da perda irreparável, atenuada pela certeza de que o amor e o senso de proteção são o que nos resta nestes momentos.
Se eu continuo a pegar alguns ônibus errados pelo caminho, e permaneço pequeno diante da tela do destino, tenho, desde aquela tarde, a segurança de que pelo grande vidro traseiro encontrarei sempre o mesmo olhar de proteção de minha amada irmã mais velha.