À noite,
caminho solitário
na praia deserta.
Do mar sopra
o característico vento do
litoral gaúcho. Enquanto
olho as ondas
brancas quebrarem naquela pequena faixa do Atlântico,
ouço Bajofondo no MP3. A dor que levava dentro
de mim dou um
jeito de a expulsar
a cada passo
executado ao ritmo do tango eletrônico.
Giro o corpo
no próprio eixo
e vejo as marcas deixadas na areia úmida — que sob meus pés
transforma-se numa enorme pista de dança.
A coreografia remete a David Byrne e Arnaldo Antunes, mas
jamais foi ensaiada. Resolvo dedicá-la aos
milhares de estrelas
que iluminam parcialmente
aquela linda e fria
noite de outono.
Elas me
parecem ser as únicas testemunhas
atônitas daquele momento de sublimação corpóreo-espiritual. Trezentos, quinhentos metros de pegadas.
Muda a música
e continuo bailando. Penso: onde estará você? A
impossibilidade de sua presença
física alimenta
o prosseguimento da catarse
que imagino registrada por algum satélite espião na órbita do planeta.
De lá, as cenas
viajam perdidas pelo espaço
infinito até
serem capturadas por uma nave extraterrestre, na qual a tripulação
assiste irônica a meu
triste espetáculo
humano. Na Terra,
leve, desapareço aos poucos num negro véu, na medida
em que
avanço sobre
a escuridão noturna
que devora minha
imagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião, seja qual for. Muito obrigado.