terça-feira, 2 de outubro de 2012

A árvore da Vida




Para a Isadora (no futuro)
 
É o fim? Não chores sobre o que já não sou. Te peço somente que me enterres no alto daquela colina. Uma cova de pouca profundidade, para assentar o meu corpo na terra crua. Não quero moedas nos olhos para o barqueiro, apenas uma semente de figueira na mão fechada. Um último adeus, punhados de terra, nenhuma lápide, e que me leves no coração. Do resto, a natureza se encarrega. A chuva, o sol, os nutrientes da decomposição, a semente.

Se tiveres muitas saudades, visita-me. Aceitarei de bom grado algumas lágrimas tuas a irrigar o solo onde germino. Assim como estendi a mão para te erguer nos primeiros passos, ajuda-me agora a ficar em pé e resistir às tempestades, cravando uma guia de madeira no qual possa crescer amparado, nos primeiros anos.

Quando voltares, já poderei te oferecer uma sombra. Finalmente conseguirás observar e entender a calma do mundo através de mim. Deitada na grama verde, verás, por entre as folhas, as nuvens levadas pelo vento. E se o tempo não permitir erguer meus netos, amarra um balanço nos fortes galhos, e deixa-os brincar comigo.

Sob a minha copa, quero que promovas piqueniques, contemples o pôr do sol, caces vaga-lumes. Coisas que nunca fiz contigo alegando tantos motivos. Traz os teus problemas e conta-os baixinho, abraçada ao meu tronco. Te ouvirei atentamente, enquanto renovo o ar que tu respiras. Me ajuda a ser aquilo que eu não soube ser. Me transforma naquilo que não pode mais causar mágoas e dores. Não mais eu, nem eu-árvore, eu como parte de tudo. Não minha filha, não é o fim! Talvez o começo.



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