Um salto no escuro


Deitados na cama, frente a frente. Ela fala de um medo de infância. Eu retribuo narrando um episódio cômico de quando era menino. Rimos juntos, revelando uma cumplicidade crescente. A paz me invande, e o sentimento inebriante da felicidade passageira se instala. Predomina um breve silêncio. Olho nos seus olhos e tenho que me conter. O desejo é mergulhar neles, penetrar em sua essência, descobrir as razões das longas pausas, decifrar os motivos da aparente (às vezes) doce melancolia, encontrar o local onde nasce a fonte de sua coragem. A mesma que me falta agora. Temo afogar-me naquele mar profundo, cair sem fim na espiral do redemoinho que ela nem imagina haver ali dentro. Fecho os olhos e decido por outro salto. Pulo suave sobre o seu corpo. É mais seguro.



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