Para minha Patrícia
Sou o músico
imaginário. O virtuose
de um único
instrumento: o teu
violoncelo. Autodidata,
com o tempo
aprendi a tocar-te à perfeição. Seguro
o corpo sinuoso
entre as pernas,
o braço apoiado em
meu ombro, e enquanto os dedos
marcam a passagem das notas, o arco
desliza rente às cordas
tesas descobrindo os mais provocativos timbres. Aqui, um sustenido de
prazer. Ali, um agudo gemido. A melodia
jamais se repete, pois
não consigo
entender a complexa
partitura emotiva
que produzimos. De nossas melhores audições,
lembro aquela do verão na praia isolada, cuja
faixa de areia
era coberta
de pequenas conchas
marinhas. O cenário
acústico ideal
para reverberar o som do teu corpo. Nas pedras,
com o mar
batendo forte, e sob
o sol escaldante, criamos a ópera da paixão,
tendo como plateia
peixes e golfinhos
atentos. Ainda
sonho em
compor música
e letra que
expressem a intensidade de nossa relação. Talvez a finalize no dia
em que
dominar o maremoto
de meus sentimentos, e possa caminhar sem medo sobre as águas turvas que
insistem em me
afogar. Idealizo a mais
bela canção,
a que será adotada como
hino pelos
arcanjos mensageiros,
e entendida por
todas as línguas da Terra.
Um mantra-tango-rock-erudito que afirme: não
há vida sem
amor. Meu
amor por
ti, violoncelo.